ALANA ROCHA (RIACHÃO DO JACUÍPE), PRIMEIRA REPÓRTER TRANSEXUAL DE PROGRAMA POLICIAL NA TV ABERTA DO BRASIL


Na pequena Riachão de Jacuípe, cidade a 186 quilômetros de Salvador, Alana Adrielle, de 36 anos, desenvolveu o blog Hora da Verdade onde mescla reportagens policiais, sobre acidentes e propagandas do comércio local. Os vídeos, a maioria com média de 5 mil visualizações, lhe credenciaram para um voo mais alto: esse mês Alana ‘esqueceu’ o ‘Adrielle’, passou a assinar seu sobrenome Rocha e tornou-se a primeira a jornalista transexual a ser repórter de um programa policial no Brasil.

Feito raro, Alana foi contratada, de forma temporária, para ser a repórter do programa Ronda (TV Aratu/SBT) em substituição do atual apresentador – Murilo Vilas Boas – que tirou férias. “Eu acredito que é muito importante o mercado de trabalho abrir esse novo horizonte para as pessoas trans. O mercado de trabalho formal precisa ver que nós temos capacidade para realizar qualquer função. Temos que dar murro em ponta de faca para conseguir um emprego. Tem que bater de porta em porta até a mão sangrar para conquistar uma vaga de trabalho”, comemora Alana que, além das reportagens, também fará eventualmente a apresentação do programa que é exibido para a Bahia, Sergipe e também pela internet de segunda à sexta a partir das 12h.

Antes de ganhar fama por conta do programa policial – onde já na estreia revelou ao vivo para o público quer era mulher transexual – Alana passou por situações de preconceito. “Já passei por situações de preconceito em Salvador. Em uma empresa que eu trabalhei ainda na fase de transição cheguei a ser dispensada do trabalho quando o chefe viu que eu era uma mulher transexual. Em minha cidade (Riachão) cheguei a pedir demissão depois que passei por algumas situações de preconceito por conta das minhas roupas, por exemplo”, explica Alana que é formada pela faculdade Anísio Teixeira, em Feira de Santana.

Em Salvador, Alana tem uma fada madrinha que é bem conhecida aqui do Me Salte: a querida Scher Marie Mercury, que promove concursos e shows de arte transformista. Pelas mãos de Scher, inclusive, a jornalista já fez performances em famosos points LGBTs de Salvador. “Nos conhecemos fazendo shows. Era um trabalho que eu fazia justamente por não ter espaço aqui em Salvador. Não conseguia emprego fácil. Os shows eram uma alternativa. Hoje, sempre eu posso, participo de alguns shows artísticos”, conta Alana que recentemente deu um close babadeiro dublando a vocalista da banda Calcinha Preta no bar Âncora do Marujo, na rua Carlos Gomes.

Alana Adrielle de Oliveira Rocha é uma mulher trans que acredita que o mundo pode ser melhor, que nós podemos e que nós conseguimos.

Sua estreia no programa, segundo conta Alana,deu um up grade na audiência da emissora. “Me senti muito bem e confortável quando disse, ao vivo, na estreia do programa que era uma mulher trans. Isso quebra muitos paradigmas, muito machismo. Isso sinceramente me deixa anestesiada. Esse momento vai entrar para a história e vai inspirar muitas pessoas que podem pensar: se ela conseguiu eu consigo. Isso me deixou muito feliz. A receptividade foi muito grande. Foi uma audiência que não tinha antes. Muitas cidades do interior que conheciam o programa ficaram ligadas assim como o meio LGBT”.
A jornalista pondera, contudo, que não ficará ‘encegueirada’ pela audiência: “Temos que ter respeito ao telespectador, aos nossos entrevistados, mesmo suspeitos de crimes e comprovadamente perigosos que nós vamos entrevistar. Sempre respeitando os direitos humanos dele e da família”.

O estilo do programa e das reportagens que Alana apresentam seguem o padrão do jornalismo popularesco – mais conhecido como de sangue pelo excesso de violência como tema. Muitos programas desse estilo já tiveram suas exibições suspensas e suas equipes foram processadas por agressões verbais a presos assim como exposição de ações policiais e matérias que ferem os direitos humanos. Diante disso, Alana promete imprimir sua personalidade nas reportagens e fazer diferente. “Eu quero humanizar isso. Eu quero mostrar também que uma transexual é sensível e que a sensibilidade dela, por estar num local que a sociedade impõe que não deveria estar, é também um exemplo para o bandido que estou entrevistando. Quero passar uma mensagem que as pessoas podem sair do crime e vencer na vida”.

Alana revela, inclusive, que com sua chegada, o programa mudará um pouco de formato. “Ainda não posso adiantar nada para não perder a surpresa. Vamos ter outras vertentes e mostrar a cara do povo na TV. Quero dar leveza ao programa para que esse estereótipo de programa policial seja quebrado”, promete Alana. Ela está fazendo sucesso nas redes sociais desde a sua estreia no programa – dia 10 de abril – com a frase “comigo o galo canta” referindo-se ao mascote da emissora (Galinho) e aos presos que entrevista.

Fonte: Correio 24 Horas

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