Seca do São Franciso pode deixar Xique-Xique sem água em 40 dias



O município de Xique-Xique, localizado no Vale do São Francisco, norte da Bahia, corre o risco de ficar totalmente sem água dentro de 40 dias. O motivo é a da seca na região, que já dura 120 dias e que causou uma baixa no volume do canal do Guaxinim, que abastece a cidade.

De acordo com o diretor do Serviço Autonomo de Água e Esgoto (SAAE), Edgardo Pessoa Filho, devido à seca, que já é a maior registrada, centenas de famílias que dependem da agricultura familiar foram prejudicadas, assim como a pesca e principalmente a locomoção, já que grande parte das famílias vive em ilhas e dependem dos barcos para percorrer longas distâncias.

"Até agora não tem problema, mas dentro de 30 a 40 dias o canal deve se 'romper', porque o leito do rio está por meio metro. As embarcações estão todas encalhadas. Se o canal se 'romper', a água não vai mais conseguir correr por aqui e muitas famílias vão ficar sem água para consumo humano", disse Edgardo Filho.

De acordo com Edgardo, com a seca do canal, famílias vão ter que percorrer uma distância de 5km para conseguir água. A solução seria chover na cabeceira do rio em Minas Gerais, para que o  volume suba e comunicação com o canal não deixe de existir. Outra solução seria a dragagem do canal, cujo principal objetivo é aumentar sua profundidade que. A opção, no entanto, envolve recursos que nem a prefeitura e nem a SAAE dispõem.

"O Governo Federal junto à Codevasf já apresentou uma alternativa que é fazer a dragagem a partir de Ibotirama, que fica a 300km de Xique-Xique. Só que, se feito de lá isso demoraria de 90 a 120 dias, e até lá o canal já secou e já estaríamos com problemas", avalia Edgardo.

Na tarde desta quarta-feira (23), A SAAE juntamente com a prefeitura de Xique-Xique apresentaram a situação em uma reunião com representantes da Companhia de Desenvolvimento do Vale São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), com o intuito de que o Governo Federal interfira o mais rápido possível na situação.

"É preciso resolver de forma emergencial o problema do canal para que pelo menos não falte água para o consumo humano. O motivo da reunião hoje foi passar informações à Codevasf, que vai fazer um relatório da situação. Os órgãos competentes não tem condições de realizar essas obras. A SAEE está em dificuldades financeiras  e não tem condição de executar essas obras", disse Edgardo.

A Codevasf, que é vinculada ao Ministério da Integração, informou que a sua responsabilidade é garantir o desenvolvimento e a revitalização da bacia do rio em questão, com o intuito de garantir a inclusão econômica e social. Ainda segundo a Codevasf, já foi publicado em Diário Oficial o decreto de execução de uma obra de dragagem do canal de navegação da hidrovia do São Francisco, no trecho compreendido entre as cidades de Ibotirama e Pilão Arcado, com um prazo de executação de 150 dias, contando a partir da emissão da Ordem de Serviço, que vai custar R$ 7.175.000,00.

A situação já vem impactando na rotina dos moradores da cidade e em especial dos que vivem nas ilhas e precisam dos barcos para pescar e se locomover, como explica a estudante Iane Marques.

“O rio aqui secou bastante. Por enquanto está tendo água, mas se o rio continuar desse jeito, nem tenho ideia do que vamos fazer. Eu moro em Xique-Xique porque estudo, mas minha família mora em uma das ilhas e, por conta da seca, a situação está mais complicada lá. Lá depende de barco e não como sair. Tem que ir de barco até a metade do caminho e depois pegar um carro que é pago, para conseguir chegar na cidade”, explica a estudante.

De acordo com Edgardo, em um cenário pessimista, onde haja queda no volume de todos os afluentes do rio, o problema poderia se agravar e afetar também a Adutora do São Francisco, que abastece a região de Irecê e também o Baixo Irecê, perímetro de irrigação que é considerado pela Codevasf como alternativa para o desenvolvimento do território.

A Empresa Baiana de Águas e Saneamento (Embasa), responsável pelo abastecimento da região de Irecê, informou por meio de nota que o ponto de captação em Nova Iguira é completamente diferente do Canal do Guaxinim – onde se localiza o ponto de captação do SAAE de Xique-Xique.

Além disso a Embasa explica que o local onde a empresa capta água para o Sistema Adutor do São Francisco foi estudado previamente visando garantir uma segurança operacional do sistema, considerando então remota a possibilidade de haver um colapso no sistema de Irecê por indisponibilidade de água.

A Embasa explica ainda que o sistema adutor do São Francisco representa um investimento de R$ 188 milhões e abastece sete cidades da região: Irecê, América Dourada, João Dourado, Central, São Gabriel, Jussara e Itaguaçu da Bahia.

Fonte: G1

Comentários